Reapropriação do Protagonismo Docente na Cultura Digital: Matriz Teórica Para Uma Didática Crítica
Palavras-chave:
Cultura Digital, TDIC, TPACK, Ensino, Formação DocenteResumo
Este artigo propõe um ensaio teórico original acerca da formação docente na era da cultura digital, destacando a proposição da ideia de um Conhecimento Político, Tecnológico, Pedagógico e de Conteúdo na atuação docente. A cultura digital tem reconfigurado a docência, exigindo novas abordagens para a formação de professores. As Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação (TDIC) ampliaram o acesso ao conhecimento, mas deslocaram o foco para a necessidade de uma filtragem crítica e a reavaliação da prática pedagógica. Inicialmente, revisita-se a teoria de Shulman (1987), que classifica a base de conhecimento para o ensino em três categorias principais: conhecimento do conteúdo específico, conhecimento pedagógico geral e conhecimento pedagógico do conteúdo. Este último resulta da interseção entre os dois primeiros, sendo construído continuamente pela prática docente refletida. A teoria de Shulman permanece relevante, mas precisa ser expandida para considerar as TDIC, como proposto por Mishra e Koehler (2008) com o modelo TPACK (Technological Pedagogical Content Knowledge). O artigo avança ao discutir a condução algorítmica da vida, que ameaça a criticidade e o protagonismo docente ao favorecer a passividade e o consenso. Nesse contexto, a dimensão política do conhecimento docente torna-se crucial. Propõe-se, então, um modelo que integra o conhecimento político ao TPACK, elevando-o à centralidade do processo formativo. Este conhecimento político é fundamental para resistir à instrumentalização tecnológica e promover uma educação crítica. Conclui-se que, para enfrentar os desafios da cultura digital, é necessário que os professores assumam uma postura ativa e crítica, resgatando o protagonismo docente e integrando a ideia de um Conhecimento Político, Tecnológico, Pedagógico e de Conteúdo. A formação docente deve, portanto, valorizar o dissenso e a intencionalidade política como motores do desenvolvimento humano e da educação crítica.
Referências
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